quinta-feira, 11 de novembro de 2010

O Furo da Noite


Lá estavam eles novamente, jantando numa mesa redonda. Assim todos podiam se ver. Formavam uma família muito conservadora, tradicional, antiga e pacata. Tinham um bom status social, viviam muito bem e tinham acesso a tudo de primeira linha. Mas sem esquecer as tradições e princípios da família.

O jantar estava como sempre. O pai servia-se primeiro, depois a mãe, a filha e por último o filho caçula. Todos estavam vestidos com suas melhores roupas. O pai falava sobre os negócios com a família e já garantia ao filho seu futuro como o sucessor da empresa. O filho aproveitava para exibir-se sobre o seu dia na escola. O pai ouvia com muita atenção, é claro, pois ele tinha que saber como seu herdeiro estava na escola. Aproveitou e perguntou à filha como ela havia passado o dia. Ela queria dizer que não havia nada diferente, que ela tinha tirado a maior nota da turma outra vez. Mas tinha algo diferente, foi quando ela decidiu contar: ela tinha colocado um pircing no umbigo.

O pai não acreditou, ficou pasmo. A mãe quase desmaiou com o choque. O irmão se aproveitou para zombar ainda mais da irmã. Passado o momento de choque, o pai começou a esbravejar, dizendo que ela não podia ter feito aquilo. Afinal, o que seria da reputação da família agora? Como ela iria arranjar um noivo decente? E pior, o que iriam falar da família? Foi então que a menina se irritou. Não queria saber os outros iriam falar, só queria ter o direito de fazer o que quisesse com seu próprio corpo. Ninguém falou mais nada durante o jantar.

Então, antes de dormir, o pai passou no quarto da filha, disse a ela que havia pensado melhor e que não se importava com o pircing, contanto que ela o mantivesse escondido. Foi quando ele viu aquele brilho de felicidade conhecido e foi tudo o que importou naquele momento.

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